Crise para depois de 2018

Publicado nos Jornais Diário do Comércio e Gazeta em 30/06/2017

Ainda sob o agonizante e interminável governo Temer, já se desenha o xadrez eleitoral para sua sucessão, seja em 2019 ou até mesmo antes, já que não se sabe se este é um governo que chegará até o final. Na economia, temos em 2017 outro ano complicado e em 2018 um resultado medíocre em termos de crescimento da riqueza e de geração de empregos. Na política, pairam inúmeras incertezas.

Em sondagem recente, o instituto Datafolha mostrou indefinição para a eleição que se aproxima. O ex presidente Lula (PT) segue na liderança, com 30%, mesmo percentual que apresentava no levantamento anterior, em abril deste ano. Isto revela que o petista está provavelmente próximo ao teto histórico de seu partido em eleições e ainda que não obteve ganhos políticos oriundos do desgaste político acometido ao presidente Michel Temer (PMDB) e ao Senador Aécio Neves (PSDB) fruto das gravações em que ambos são flagrados cometendo crimes. Ademais, com um nível de conhecimento de 99%, Lula é rejeitado por 46% dos entrevistados na pesquisa. Estes fatores mostram que a liderança torna o favoritismo apenas aparente do ex-presidente Lula, que dificilmente será eleito.

A segunda posição da pesquisa, é ocupada por um empate, entre o midiático candidato de ultra direita Jair Bolsonaro (PSC) com 16% e a ex-senadora Marina Silva (REDE) com 15%. Na análise da rejeição, Marina que tem alto nível de conhecimento, leva pequena vantagem, ela é rejeitada por 25%, já Bolsonaro, conhecido por apenas 63% dos eleitores, é rejeitado por 30%, o que pode inviabilizar sua candidatura a alçar voos mais ambiciosos.

A única certeza que se tem em relação a eleição de 2018, na ausência de fatos novos, é que a candidatura Tucana caminha para abraçar o governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB). Com Aécio fora do páreo, Alckmin se torna o candidato natural, e embora não assuma, deve formar uma coligação com PSDB, DEM, PP, PMDB, PR, PTB, PSD e talvez o PSB com quem estreitou laços recentemente. O governador que tinha 5% no último levantamento, aparece agora com 8% e embora ainda tenha uma rejeição elevada, 34% dos eleitores, é improvável que uma candidatura com esta dimensão fique fora do segundo turno.

Alguém será eleito em 2018, o mercado está em compasso de espera para saber se o Brasil será viável como destino para investimentos, ou se nossa democracia nos levará a outra aventura, a exemplo do ocorrido em 1989. Nomes novos e viáveis estão descartados para o processo que se aproxima e um número preocupa, a taxa de rejeição dos 4 candidatos capazes de vencer as eleições do ano que vem é maior do que a sua intenção de votos. Ademais, resultados econômicos positivos, servem para fortalecer a credibilidade do establishment político. Há toda uma literatura envolvendo a Teoria do Ciclo Político (TCP) que discute estes efeitos. As previsões para o comportamento da economia em 2018 estão se deteriorando rapidamente e já é consenso que chegaremos na eleição com um desempenho medíocre.

A soma de elevada taxa de rejeição das candidaturas favoritas, com um desempenho econômico ruim em termos de emprego e renda, somado ainda com uma eleição polarizada e pautada por temas éticos e acusações podem radicalizar ainda mais os eleitores (como em 2014). Se isto acontecer, a crise política ora vista, vai permanecer no início do próximo governo, há de se avaliar ainda a composição do congresso que será eleito, se haverá alto índice de renovação e se este terá bom relacionamento com o executivo, além de um ímpeto reformista maior do que o atual, isto só saberemos na urna. Este é o pior dos cenários, mas nada garante que não seja possível ou provável, é preciso aguardar pra ver.

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