Entrevista sobre a crise de energia

Nesta manhã de sábado 07/02 Benito Salomão recebeu em seu escritório a equipe de jornalismo da TV Record onde concedeu à repórter Larissa Marques uma entrevista sobre o atual momento do setor energético do país.

A crise embora tenha sido acentuada por problemas climáticos que restringiram a oferta de energia no país, não se deveu só a isto segundo o economista, a falta de investimentos no setor é culpada pela escassez que também é provocada por fatores de demanda, visto a sinalização errada da presidente da república em anunciar que abaixaria o preço da conta de luz em meados de 2012.

Questionado sobre a possiblidade de o país enfrentar um racionamento de energia, Salomão afirmou que já vivemos em um racionamento velado, onde embora a presidente da república não assuma explicitamente a necessidade de se reduzir o consumo de energia, o próprio sistema de bandeiras tarifárias já supõe necessidade de restringir o consumo, via o mecanismo tradicional de mercado, o preço.

Ao comparar a crise de energia de 2015 com a vivida pelo país em 2001, Salomão foi enfático em afirmar que desta vez por razões diversas a crise é pior, e elencou os seguintes motivos:

1° – Em 2001 a crise de energia se restringia ao setor elétrico e à fatores climáticos, não havia explosão de demanda, nem tão pouco alucinações tarifárias, de forma que a simples retomada das chuvas restabeleceram os níveis do reservatório e a normalidade do sistema, diferente de 2015 quando vivemos um problema de desabastecimento duplo na economia brasileira, água e energia.

2° – Hoje vivemos na economia brasileira um choque de oferta clássico, de modo que o déficit do setor estimado em R$40 bilhões para 2015 sugere a incapacidade de se realizar a médio prazo novos investimentos no sistema e expandir a oferta, diferentemente de 2001 quando o setor não apresentava rombos.

3° – As condições macroeconômicas de 2001 eram mais favoráveis em relação a hoje onde a necessidade de se sanear as contas do governo, deficitária em 6,2% em 2014 e com uma dívida bruta de 62% impedem que novos pacotes de socorro sejam feitos pelo tesouro ao sistema elétrico, e ao mesmo tempo a aceleração inflacionária persistente nos últimos 6 anos deve se intensificar nos próximos anos onde a reposição do caixa das empresas do setor elétrico será feita com vistas a aumento tarifário, recaindo sobre o consumidor.

4° – Em 2001 não havia tendência de estagnação econômica e a indústria representava 17% do PIB, ao passo que hoje, viemos de um crescimento de 0% em 2014, com previsão de queda de 1,5% para 2015, além da indústria representar algo em torno de 12% do PIB este ano, de forma que o desabastecimento vai limitar a capacidade de crescimento da economia nos períodos seguintes, visto que a falta de água e energia impactam diretamente a agricultura, indústria e serviços.

Por fim os reajustes não devem cessar ao longo do ano que deve acumular alta superior a 50%, a inflação deve ficar próxima de 7,5%, o crescimento negativo na ordem de 1,5%, o setor elétrico fechará com déficit entre $35 a $40 bilhões e o governo não conseguirá cumprir a meta de primário de 1,2% do PIB, a dívida bruta deve avançar a 66% do PIB. A solução mais óbvia para estabilizar a dívida e retomar investimentos seria a venda de todas as participações do governo em empresas do setor elétrico, privatização.

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