O mito do Câmbio

Publicado no Jornal Correio de Uberlândia em 24/04/2012
No Brasil temos o mau hábito de quando enfrentamos alguma dificuldade o/u problema, no lugar de enfrentar e resolver tal impasse, enumeramos os responsáveis e acusamos algum culpado externo.

Desta vez o problema maior de nossa economia é perda de competitividade de indústria, que não consegue exportar e tem grandes dificuldades de concorrer com os produtos importados no mercado interno, o que só não é mais agravado pelo fato de os níveis de consumo estar circulando em um patamar elevado o que tem segurado de maneira insuficiente a indústria de transformação no país.

Para justificar sua baixa eficiência empresários de muitos setores recorrem ao governo para adotar medidas que os protejam da perda de mercado, do outro lado o governo para justificar sua inação e incompetência em lidar com desindustrialização do país usa sua gigantesca máquina propagandística para jogar pra cima do câmbio a responsabilidade do problema e lavar suas mãos ante a questão.

É evidente que o real sobrevalorizado ante o dólar causa um efeito prejudicial principalmente para nosso setor exportador de manufaturas, pois tornam nosso produto mais caro quando apreçado em moeda estrangeira, na contramão nossa, a China que é o maior exportador do mundo atual atribui seu sucesso em muito a famosa trapaça cambial que realiza desvalorizando excessivamente o yuan ante o dólar.

A Alemanha na contramão deste processo não possui sequer autonomia de sua política monetária e consequentemente não pode influenciar o valor do sobrevalorizado euro detém um dos parques industriais mais produtivos do mundo, sua economia exporta com uma capacidade única no mundo e não vemos seus empresários reclamando do câmbio que aliás é o mesmo para mais de 25 países.

A economia brasileira não tem condições de ser nenhuma das duas hipóteses, nem a China que é um país de população miserável, sem democracia e direitos humanos, nem a Alemanha que possui uma estrutura sócio-cultural e econômica distinta de qualquer outro país mesmo europeu. Mas podemos fazer o dever de casa.

Temos um incompreensível modelo tributário onde o ICMS varia de alíquota nos estados do próprio país, funcionando como um imposto de importação para os produtos produzidos dentro do Brasil. Muitas vezes um produto importado entra no estado de Santa Catarina pagando mais impostos relativamente á mercadoria produzida na Bahia. Como queremos que nossos produtos concorram com os estrangeiros nestas circunstâncias?

Outro fator que não permite uma paridade com nossos concorrentes emergentes são os nossos custos trabalhistas que são mais elevados do que qualquer outro país do mundo, nosso mercado de trabalho é tão destorcido de forma que os encargos e impostos incidentes sobre a folha que se torna oneroso pra quem paga o salário e medíocre pra quem recebe.

Por fim temos uma infra-estrutura precária e desordenada, muitas vezes um produto produzido em Mato Grosso, paga uma energia mais cara, e tem custos de frete mais elevados para chegar nos portos do que os estrangeiros para atravessar o oceano.

Acontece que é mais fácil para o governo escolher o câmbio como bode espiatório do que assumir que não tem cumprido com suas obrigações e resolvido os problemas estruturais da economia brasileira. Como tentativa de mostrar alguma preocupação lança pacotes de estímulo, cria siglas ao estilo PAC que podem até atenuar, mas não resolvem nossos problemas econômicos.
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1 comentário

  • SpaceWagner

    Caro Benito,

    Sua reflexão é um tema que não tem fim. Tratam-se de problemas antigos da economia brasileira, que, entendo eu, são de caráter estrutural.

    E para resolver problemas estruturais, políticas pontuais podem ser insuficientes. Por isso a velha defesa de que se adotem planejamentos de longo prazo (mais do que políticas). Grandes projetos que consigam 1. mapear todas as deficiências e nós estranguladores da economia brasileira 2. Atuar em diversas frentes 3. Privilegiar efeitos de transbordamento e interdependência entre os setores da economia e 4. tudo isso da forma mais eficiente possível.

    Infelizmente sabemos que isso envolve muitos custos de transação e problemas de escolha pública! Muitos dos problemas brasileiros encontram-se mais em instituições imbecis (Já diria Veblen), formadas ao longo do tempo e cristalizadas nos hábitos da sociedade. O processo de desenvolvimento pode e deve passar por uma reformulação do ambiente institucional!

    Grande abraço direto de Porto Alegre,
    Wagner

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